Minha amiga Luciana Annunziata, sócia da Dobra Aprendizagem, tem um blog muito legal sobre Inovação, Idéias para Inovar.
Seu último post fala sobre as idéias de Umair Haque e a Inovação Comportamental.
Segue o post na íntegra.
Conheci o trabalho de Umair Haque através do post de uma amiga no Twitter, o que deve ser um sinal dos tempos. Graduei-me em economia há muito tempo e desde então não encontrava um trabalho nessa área que me interessasse tanto.
Haque é o autor do Manifesto do Crescimento Inteligente e do conceito de inovação comportamental. Para mim, suas idéias são tão lógicas e essenciais quanto disruptivas. Por que? Porque finalmente alguém conseguiu atrelar inovação e ética de forma fundamental.
Eis algo em que realmente acredito. Se você está pensando em produtos, serviços, mercados ou negócios do futuro, você é profundamente responsável pelo mundo que ajuda a construir com suas idéias. Nada mais lógico do que perguntar-se: “como essa idéia afetará o mundo?” “quem se beneficiará dela?” “ela desperdiça recursos naturais?”.
O pensamento de Haque é profundamente ético, mas vai além.
Ele propõe que a crise atual coloca em cheque o pensamento estratégico fundamental do sistema capitalista que ele chama de Capitalismo 1.0 (leia-se, aquele que se baseia em princípios construídos durante o século XX). Ele cita, numa palestra que se pode assistir no site Vimeo, a frase de um dos fundadores do pensamento econômico, Adam Smith, que teria dito a pérola “tudo para nós e nada para o povo.”
Normalmente a inovação procura ampliar os benefícios oferecidos a clientes e consumidores, sempre buscando minimizar os custos para possibilitar que a margem entre estes e o valor final de cada produto ou serviço seja também ampliada. É claro que estou simplificando! Há situações de negócios inovadores que são desenhados para suportar um certo prejuízo durante algum tempo e existem inovações de modelo de negócios que abrem novas janelas de oportunidade e benefícios nunca imaginados. Entretanto, o raciocínio do custo-benefício está presente sempre.
Haque começa a nos chamar a atenção para algo fundamental: o processo! Quando perceberemos que o processo é no mínimo tão importante quanto o produto? Quando perceberemos que ao comprarmos produtos e serviços estamos também comprando um modo de produzir que pode nos levar ao crescimento ou ao colapso?
Diz Haque: “Agora precisamos reconceber os custos e benefícios que dão forma ao nosso comportamento. Precisamos de novos princípios para guiar o valor.”
Estamos vivendo, literalmente, uma crise de valores e como a base da economia é a equação de valor por trás das tomadas de decisão, é provável que tenhamos a oportunidade de afetar todo o sistema.
Um dos princípios do Google, por exemplo, é “você é inteligente e seu tempo é importante”, simples, não? Mas não é preciso ir tão longe, se você parar para pensar, verá que seu comportamento também é guiado por afirmações como essa, que refletem o que tem real valor para você. (Eu, por exemplo, parei na hora de jogar óleo na pia quando soube os gastos que a Sabesp tem por ano para sanar os problemas causados pelo óleo que é misturado à água!)
O autor então menciona 5 princípios da inovação comportamental (mantive-os em inglês, pois não encontrei tradução para todos):
- Stewardship, que está relacionado à responsabilidade em relação aos recursos comuns à comunidade.
- Trusteeship (confiabilidade), que trata de manter o jogo num terreno limpo em termos de negócios e não ser “espertinho” para obter lucros rápidos. ( Como exemplo, ele sita a empresa de telefonia que comprou o nome do Milleninum Dome, em Londres… que oportunidade!).
- Guardianship, que diz respeito ao zelo pelo bem comum.
- Leadership (liderança), que diz respeito à coragem e ao desafio de apontar o que está errado em um mercado, por exemplo. (Aqui, é claro, ele menciona a estranha falta de liderança que impediu a situação em Wall Street de ser denunciada antes que fosse tarde).
- Partnership (parceria), que significa a responsabilidade das marcas em buscar não somente a diferenciação e a maior percepção de valor, mas sua responsabildiade em buscar para significado, “thick value”, como ele diz. ( A indústria alimentícia, por exemplo, será que vê os consumidores como parceiros?).
Princípio Capitalismo 1.0 Capitalismo 2.0
Stewardship Vantagem de custo Vantagem de perda (para a sociedade como um todo)
Trusteeship Dominância Responsividade (parecido com responsabilidade, mas inclui a capacidade de responder ao ambiente)
Guardianship Controle Resiliência
Leadership Diferenciação Diferença (todos na cadeia de valor ganham um pedaço justo da recompensa)
Partnership Marca Significado
Também extraí algumas passagens dos 4 pilares do crescimento inteligente – para economias, comunidades e corporações:
“1. Resultados, não rendimentos. Crescimento burro diz respeito a rendimentos – estamos mais ricos hoje do que ontem? Crescimento inteligente diz respeito a pessoas e quanto melhor ou pior elas estão, não meramente quanto lixo a enconomia consegue destilar.”
“2. Conexões, não transações. Crescimento burro olha para o que está fluindo pelos canos da economia global: volume de negócios. Crescimento inteligente olha para o que forma esses canos e por que alguns desses canos são mais importantes do que outros: qualidade de conexões.”
“3. Pessoas, não produtos. … Crescimento inteligente não se move para empurrar produtos, mas pelas habilidades, dedicação e criatividade das pessoas.”
“…O que dá poder ao crescimento inteligente não é capital buscando burramente o menor custo de mão-de-obra, mas a possibilidade de que o trabalho possa ter o poder de buscar o capital onde quer que possa criar, inventar e inovar mais.”
“4. Criatividade, não produtividade. … Crescimento inteligente foca a economia criativa porque a criatividade é o que nos permite ver que a competição está criando valor novo ao invés de ficar apenas mudando o valor de lugar.”
Muito para um post só! Vale a pena aprofundar cada idéia que ele propõe. Fica, entretanto, uma pergunta: a sua organização está levando em conta esses novos princípios quando se propõe a inovar?
sexta-feira, 22 de maio de 2009
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